segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

DANÇANDO NO ESCURO, com a atriz e cantora Björk

           O filme Dançando no Escuro (Dancer in the Dark), vencedor da Palma de Ouro, indicado ao Oscar 2001, vencedor de Cannes 2000 como melhor filme e melhor atriz (Björk), mistura o drama com um musical encantador. Escrito e dirigido por Lars Von Trier conta com a cantora Islandesa Björk no papel de Selma, a protagonista imigrante tcheca que vai para os Estados Unidos para fazer a cirurgia do filho Gene.
Juntando cada trocado ganho numa usina têxtil, ela esconde de todos que está ficando cega, inclusive dos que a contrataram. A cegueira é genética e esta é a causa de tanto sacrifício em economizar até em presentes para o filho. O fato de saber que seu filho teria a mesma doença não fez com que ela desistisse de tê-lo.
Seu consolo está nos musicais que assistia quando pequena e nos ensaios que fazia para seu musical da Noviça Rebelde. Ela faz da própria vida um musical, pois “num musical nada de horrível acontece”, é sua forma de não ter medo, de não doer tanto. Qualquer tipo de batida ritmada faz com que saia de si, viaje para o “delírio” do seu musical.
Na fábrica, fica amiga de Kathy (Catherine Deneuve), ou Cvalda como Selma gosta de chamá-la, que sempre a ajuda. Outra personagem é Jeff, o colega e amigo apaixonado.
Trabalha demais dizendo que o dinheiro é para o pai, o bailarino de Praga, Oldrich Novì. A verdade é que junta dinheiro em casa para a operação na vista do filho. Sempre paga em dia o aluguel de seu trailer ao casal Linda e Bill que são seus vizinhos e amigos, que idolatram o dinheiro. Bill é um policial com herança e Linda, sua esposa, é uma mulher do tipo “estrela de cinema”, que adora gastar. Bill rouba o dinheiro de Selma por estar falido. Está claro o quanto a personagem é inocente e até infantil em bastantes trechos do filme, caracterizando bem a moça puramente bondosa.
Todos já desconfiam que esteja ficando cega. Passa a, ora pedir carona a Jeff, sendo que antes recusava seus convites; ora ir embora a pé, pelo trilho do trem para se orientar pelo barulho. É demitida da fábrica por quebrar uma das máquinas. O sofrimento de sua vida fica maior já que está sem trabalho e sem visão.

Aliás, a trilha sonora é fantástica (lançada no albúm Selmasongs da Björk). Um dos trechos mais bonitos do filme, para mim, foi na música “I've seen it all”, quando ela canta e dança com Jeff ao ritmo do trem. Ele canta coisas que ela nunca verá e ela canta que já viu o necessário. Esta parte em especial, acho que é como uma premonição do que vem a seguir: “I've seen a man killed by his best friend.” (Eu vi um homem ser morto por seu melhor amigo).

Crente que juntaria o dinheiro de seu último dia de trabalho ao que ela guardou no pote, combina com Jeff de pegá-la às quinze horas para levar o dinheiro ao hospital e marcar a operação. No entanto, ao chegar em casa não vê o dinheiro, vai a casa de Linda e Bill já imaginando o que teria acontecido, pois Bill era o único que sabia que ela tinha dinheiro guardado. Linda acusa Selma de desejar seu marido, diz que ele havia contado tudo. Selma não responde, só quer reaver o dinheiro. Sobe até o escritório dele e inicia-se o confronto.
Ela pega o pacote da mão dele, ele diz que o dinheiro é dele e pega o pacote de volta. Linda vê a cena e o marido faz entender que Selma estava roubando seu dinheiro. Enquanto Linda corre no vizinho para chamar a polícia, o amigo pede para matá-lo, pois só assim devolverá o dinheiro e é isto que ela faz. Mata numa atitude desesperada que nos transmite a dor pela qual está passando.
Ela não o acusa de roubo e nem conta o segredo do amigo em nenhum momento, o que faz com que a cena fique mais agonizante. Amizade e devoção com quem não merece, pode-se chamar de honra se visto que fez a promessa de não contar o segredo e manteve até o fim, até quando valia a sua própria vida.
Já presa vai a julgamento e todas as provas se voltam contra ela. Tudo o que disse ou não disse é maliciado e insiste na mentira de que o dinheiro ia para seu pai Oldrich Novì, um bailarino que nunca conheceu. É sentenciada a morte. Kathy quer reabrir o inquérito contratando um advogado particular que, com a descoberta de Jeff sobre a operação de Gene, prometia absolvição de Selma. Ela se enche de esperança, mas quando descobre que o dinheiro pago ao advogado é exatamente o dinheiro que havia dado para a operação, se volta contra, pois não quer o filho cego.
Então aceita a penitência do destino contra ela, pois ou ela morre e seu filho enxergará, ou ela vive e seu filho ficará cego. Embutido ao destino tem a escolha também, mas pela culpa que carrega e pelo bem do filho, se sacrifica. Jeff vai visitá-la e diz que a ama entre lágrimas.
Em seu último dia de vida, marcha para o enforcamento seguindo o ritmo das batidas, músicando. Eram 107 passos para o fim. O enforcamento é muito triste e sentimos raiva pela injustiça feita.
Nos últimos minutos chama pelo filho. Kathy diz que ele está do lado de fora, que fez a operação e entrega-lhe os óculos do menino. Fala ainda que ela teve razão, tem que ouvir a voz do coração. É o que faz, com as batidas de seu peito se acalma e canta para todos, pela última vez. Não! Não é a última canção, como diz depois que ela é enforcada, as cortinas se fecham e todos estão com o rosto todo molhado de lágrimas: “Dizem que é a última canção, mas eles não nos conhecem. Só será a última canção se deixarmos que seja.”
Ao assistir você torce para que tudo de certo no final, mas a característica do gênero dramático é justamente esta, o sofrimento por uma culpa não cometida voluntariamente. No filme ela sofre do início ao fim pela escolha de ter um filho sabendo das conseqüências, por estar ficando progressivamente cega, por ter que juntar dinheiro para a operação do filho trabalhando sem descanso, pelo roubo obrigando que mate seu melhor amigo, pela prisão e morte. O sofrimento é progressivo, e qualquer esperança é esmagada por defesa de quem ela ama. Ótimo filme para quem gosta de músicais.

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